Houve uma época em que era possível se distinguir melhor os
diferentes gêneros cinematográficos, mas hoje a situação parece ter atingido um
patamar no qual fica complicado diferenciar uma coisa da outra.
Por exemplo, havia os filmes de terror (hoje denominados horror), os filmes de aventura, de ficção, de comédia e por aí vai, e era mais fácil diferenciar um do outro. Filmes com criaturas aterrorizantes, impreterivelmente, eram filmes de horror e ponto final, qualquer criança era capaz de diferenciar uma coisa da outra.
Hoje a coisa não é mais tão simples, quer ver?
Tenho um filho de quatro anos e que, devido à idade dele,
ainda não deixamos que ele assista filmes de horror, por motivos óbvios como
pesadelos e coisas do tipo. No entanto ele já assistiu, junto com a mãe dele, a
alguns filmes da saga estrelada pelo tal Pattinson. Até então tudo bem, certo?
Outro dia ele viu a propaganda de um filme de horror na
televisão e me perguntou se poderia assistir, eu disse que não porque tinha uns
bichos feios e ele ficaria com medo, lobisomens e vampiros, para ser mais
exato. Então ele rebateu: mas eu já assisti filme com vampiro e lobisomem com
minha mãe e não fiquei com medo.
Dá para perceber como fica complexo explicar esse tipo de
diferenças?
Por que alguns filmes estrelados por essas criaturas podem
ser assistidas por crianças e outras não se, em sua essência, eles possuem os
principais ingredientes?
Tentarei divagar sobre tal questão.
Com a recente avacalhação do gênero horror e a banalização
dos “personagens clássicos” fica praticamente impossível para um fã que não
possua o devido conhecimento distinguir uma coisa da outra (como, no caso, meu
filho de quatro anos).
Enquanto compreender esse tipo de coisa fica difícil para
faixas etárias como a dele, é até aceitável, mas percebo que há também aqueles
que, embora embrenhados dentro de um meio soturno, possuem tal dificuldade.
Quando ainda se levava a coisa a sério personagens como
lobisomens, vampiros e outros entes malditos que apenas faziam-se presentes em
obras dedicadas ao horror, ficava mais difícil confundir um filme de horror com
um conto de fadas, mas hoje a situação é diferente.
Citarei exemplos em que as obras (sucessos de bilheteria)
possuem vampiros e lobisomens em seu enredo, criaturas clássicas para os
amantes do horror, mas que não podem ser incluídas dentro dessa categoria.
Saga Crepúsculo, por exemplo, ainda que a trama gire em
torno das criaturas que já citei, está muito longe de ser um filme de horror.
Não há ambientação que remeta ao horror, não há clima para o mesmo e os
personagens não se comportam como deveriam, de forma sanguinária e impiedosa,
como fariam originalmente. Talvez essas obras possam ser qualificadas como um
filme romântico ou uma comédia de mau gosto, mas não como um filme de horror.
Já os filmes da saga Underworld (Anjos da Noite) são outro
exemplo. Os personagens principais ainda que sejam bem mais terríveis que os
bondosos seres do exemplo anterior e as obras sejam carregadas de escuridão e
soturnidade, de modo geral são trabalhos que remetem mais ao gênero da aventura
ou da ficção científica do que ao horror.
Resumindo: não é o simples fato de um filme ter em seu
elenco criaturas sobrenaturais que faz dele um filme de horror. Os últimos
lançamentos, tanto literários quanto cinematográficos, puseram um fim a esse
conceito, assim como existam obras espetaculares dentro do horror que também
não fazem uso desses entes malditos.
Não basta apenas introduzir um vampiro ou um lobisomem em
uma trama para fazer dela uma obra de horror. Esses personagens, pelo menos
essa é minha opinião, são apenas ingredientes que devem ser somados a diversos
outros para que se crie uma obra razoável.
Prefiro não me aprofundar nessa questão uma vez que meu foco
não é dar lições de “como escrever” ou de “como criar um filme”, eu apenas
pincelei um pouco sobre essa questão.
Meu desejo é apenas o de exemplificar como um conceito
aparentemente tão simples, como qualificar um filme como sendo de horror ou
não, acabou se tornando mais complexo, graças às pérolas que fazem sucesso hoje
em dia.
Uma coisa, posso dizer com propriedade:
Não, meus caros, Crepúsculo não é filme de horror, certo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário