Lobisomem: A Verdade Sobre a Lenda.

Assim como outras criaturas lendárias, como os Vampiros, os Lobisomens atualmente estão em grande evidência tanto no cinema quanto na literatura e devido ao sucesso ($$$$) que fazem com o público a quantidade de obras relacionadas a eles aumenta a cada dia.

Porém, cada uma dessas obras fictícias tenta atribuir-lhes origem e comportamentos específicos, que na maioria das vezes não condizem com as lendas originais da criatura.

Mas quais seriam essas lendas originais que hoje alimentam a imaginação das pessoas mundo afora?

Não há um consenso sobre a origem dos Lobisomens uma vez que existem diversas lendas sobre ele, mas em comum elas possuem o fato dela ser um homem que se metamorfoseia em lobo, dando origem a um ser selvagem e sanguinário.

Algumas delas surgiram na Europa do século XVI, embora traços da lenda apareçam em alguns Mitos da Grécia Antiga. Segundo As Metamorfoses de Ovídio, Licaão, o rei da Arcádia, serviu carne de Árcades a Zeus e este, castigando-o, transformou-o em lobo. Um dos personagens mais famosos sobre a lenda foi o pugilista Árcade Damarco de Parrásia, O Dinita, herói olímpico que assumiu a forma de lobo após um sacrifício a Zeus Liceu, retornando à forma humana nove anos após o ocorrido.

Os Licantropos dos gregos (como também são conhecidos os Lobisomens) são denominados por vários outros nomes, de acordo com a região onde a lenda surgiu. Versipélio, para os romanos, Volkodlák para os eslavos, o Werewolf ou Dracopyre segundo os saxões, o Werwolf dos alemães, o Óboroten dos russos, o Hamtammr dos nórdicos, o Loup-garou dos franceses e o Arbac-apuhc da Península Ibérica.

De acordo com os povos eslavos (oriundos da Europa central e oriental) o primeiro grande Licantropo foi Victor Kruschev II, o Grand Duke de Podgorica, atual capital de Montenegro. Esse Grand Duke, segundo as lendas, foi convocado para lutar do lado do Império Sérvio contra a opressão Austro-Húngara, e em troca ele receberia autonomia sobre sua região. Como ele e seu exército eram grandes guerreiros e atacavam à noite para se aproveitarem das circunstâncias, nasceram as primeiras lendas sobre Lobisomens que habitavam montanhas e atacavam vilarejos.

Na América do Sul a criatura também é conhecida como Lubiszon e Lubishome, em países que falam línguas de origem espanhola.

No Brasil a lenda foi trazida pelos portugueses e, de acordo com ela, um homem mordido por um lobo em noite de Lua cheia começa a se transformar em Lobisomem todas as noites em que a Lua chega ao seu ápice e caso a criatura morda outra pessoa, a vítima portará a mesma maldição.

No sertão brasileiro a lenda ganhou diversas versões. Uma delas diz que o sétimo filho homem de uma sucessão de filhos do mesmo sexo sofrerá essa maldição. Em outras regiões dizem que se uma mãe tiver seis filhas mulheres e o sétimo for homem, ele será um Lobisomem. Existem também versões que falam que se um filho não for batizado poderá se transformar na criatura, quando adulto. Outra lenda diz que a transformação ocorre em noite de Lua cheia em uma encruzilhada., quando a criatura passa a atacar animais e pessoas para se alimentar de sangue, retornando à forma humana com o raiar do Sol.

Segundo essas lendas é possível reconhecer o Lobisomem na forma humana por seus comportamentos estranhos e por súbitas mudanças de comportamento, sendo ela uma pessoa misteriosa e quase sempre possuindo profundas olheiras. O amaldiçoado, ainda, é uma pessoa muito atenta às outras, sempre desconfiando de tudo, provavelmente temendo que o fato de portar tal maldição seja descoberto.

A única forma de se matar um Lobisomem é atingindo-o com algum objeto feito de prata, normalmente uma bala. Assim ensinam as lendas sobre a criatura.

Porém a Psiquiatria diz que os Lobisomens (então tecnicamente chamados de Licantropos) são pessoas acometidas pela Licantropia, que é um distúrbio onde o indivíduo pensa ser ou ter sido transformado em qualquer tipo de animal. Neste caso, acredita-se que exista um transtorno do senso de identidade própria, segundo a definição do psiquiatra Scharfetter. Tal transtorno é encontrado principalmente em casos de esquizofrenia e transtornos afetivos, podendo ser encontrado também em outras psicopatias. O mal pode ser interpretado como uma tentativa de exprimir emoções suprimidas, especialmente de ordem agressiva ou sexual, através da figura de um animal, que pode ser muito variado, não se atendo especificamente aos lobos. Para o tratamento do problema o uso de medicação neuroléptica pode ser bastante eficaz.

Ainda no âmbito clínico, a Porfiria (doença cutânea hereditária) pode ter originado tais lendas, uma vez que em casos mais graves ela causa deformações físicas e problemas mentais no paciente, podendo facilmente fazê-lo assemelhar-se a um Lobisomem.

Paciente com Porfiria

Seria então a lenda do Lobisomem apenas um engano relacionado a pessoas enfermas, engano esse que se arrastra através dos séculos, ou há alguma verdade nas inúmeras histórias sobre os homens capazes de se transformar em lobos?

Tire suas próprias conclusões, mas caso encontre algum deles em noite de Lua cheia, me avise.