10 julho 2012

Faces do Horror - Medo da Morte.


Prisioneiro do Medo

Prisioneiro do Medo

Um dos maiores temores da maioria das pessoas, entre tantos outros, é o de morrer. Há quem se sinta confortável com essa idéia? Se há, é uma minoria.


Mas por que a morte causa tanto medo nas pessoas?

Ao conversar sobre o assunto percebi que o grande medo delas é o de não fazerem idéia do que as espera após o definitivo cerrar de olhos. Medo do desconhecido então? Sim, é o que me parece.

As pessoas dizem temer não propriamente a morte, mas sim a dor ocasionada por algum acidente vascular, ou automobilístico, e coisas do tipo, e que prefeririam (se houvesse a opção de escolher) morrer enquanto dormem para, dessa forma, nada sentir e terem uma morte tranquila. Medo da dor? Também.

Ainda assim existem doutrinas e religiões que afirmar possuir o conhecimento acerca do que se passa na vila além túmulo, e mesmo os adeptos dessas ideologias não se sentem confortáveis com a idéia do falecimento. Nesses casos o que as angustia seria a saudade dos amigos e familiares que não (pelo menos ainda) os acompanharam na derradeira viagem. É justificável, mas ainda assim explica esse medo da pobre e simpática encapuzada?

Na verdade existem muitos fatores com que fazem com as pessoas temam a morte e enumera-los seria demasiadamente cansativo aos leitores, então vou me ater àquele que já citei e acredito ser o mais palpável: o medo do desconhecido. Tudo aquilo que desconhecemos nos causa temor. Medo de uma nova doença que surge, tem gente que sequer sai de casa, até conhecer as formas de contágio e as maneiras de se proteger. Acabou o medo.

Quem se sente confortável diante da possibilidade de executar uma tarefa em que não se tem a certeza acerca do sucesso? Há os que encaram de peito aberto tal missão enquanto outros preferem não se arriscar. Medo de fracassar, mas baseado primordialmente no fato de não terem certeza do seu sucesso diante de uma falta de conhecimento que possuem.

Quando vamos a um lugar que não conhecemos, nos sentimos plenamente tranqüilos? Vamos nos recordar do primeiro dia de aula, onde abandonamos o conforto do nosso lar e a companhia dos nossos familiares para estar em um local totalmente estranho e com pessoas que nunca vimos na vida. Quem se sentiu confortável em tal situação? Muitos choraram e imploraram para que não fôssemos deixados ali, mas isso até nos acostumarmos com o novo local e fazer amizades, depois disso passamos a brigar pelo dia da ausência. Mas enquanto desconhecida, a situação era apavorante.

Não é necessário ir tão longe, e o primeiro dia em um novo emprego? É agradável? Pelo menos para mim, não. Não sabemos com quem iremos nos relacionar, quem é ou não confiável, que tipo de humor nossos superiores possuem, e por aí vai. Talvez nesse caso não chegue a configurar medo, mas um desconforto, embora esse índice varie de pessoa para pessoa.

A verdade é que a partir do instante em que conhecemos alguma coisa, ela deixa de nos causar medo. Os preconceitos desaparecem, as idéias errôneas deixam de existir e passamos a encarar o até então objeto de horror da maneira como ela realmente é, e na maioria das vezes ele se mostra não tão aterrorizante como imaginávamos que fosse. O medo de uma morte sofrível e dolorosa.

Essa seja, acredito, a síntese do medo. Passar horas a mercê de um psicopata do naipe de um Jason ou Freddy Krueger (não citarei monstros da vida real para não fazer da coluna uma vitrine para criaturas desprezíveis desse tipo), onde ele terá o poder de dizer quando e de que forma sua vida se findará. Terrível, não?

Ou quem sabe o medo de ser soterrado, ou até mesmo enterrado vivo (embora atualmente essa hipótese seja bem mais remota que no passado) e não poder evitar que a encapuzada o leve para os confins do desconhecido. Trágico, trágico...

O horror, seja no cinema, na literatura, nos quadrinhos, na música, ou seja lá em qual meio, explora principalmente o medo da morte. Seja morrer de forma horrenda nas mãos de um psicopata, destroçado por um enfurecido lobisomem ou ganhando a vida eterna pelas frias mãos de um vampiro, nenhuma dessas formas de morrer é vista nem que seja com uma ponta de receio.

Conheço pessoas cujo sonho de vida é se encontrar com um vampiro belo e amoroso (Cullem? argh!) que as concedam o dom da imortalidade e então poderem apaixonadamente perambular pelo mundo conhecendo seus encantos. Mas quantos desejam fervorosamente encarar o tio Freddy e sentir suas afiadas navalhas rasgando-lhe o corpo enquanto ouvem suas sádicas risadas? Não conheço ninguém que tenha esse tipo de sonho. Então, no caso, não é ausência de medo da morte, mas tesão pelo maldito Culler!!! (Eu preferiria o Kruegger, sinceramente).

O medo, como tudo o que existe, é muito relativo. As pessoas o sentem e o encaram de forma muito particular. Há quem tenha medo de altura, de lugares fechados, de aranhas, de cobras, de avião, do desemprego, do casamento e por aí vai. O medo que para alguns chega a ser engraçado, para quem o possui, não é e ser ridicularizado por isso é extremamente traumático.

Para nós, os adoradores do gênero horror, infelizmente, acabamos nos calejando perante horas e horas degustando litros de sangue e saboreando as feições mais horrendas (por vontade própria), de forma que o medo não nos afeta mais, ou ainda quando o faz não é com a mesma intensidade em que afeta os “leigos”. Mas a grande maioria não foi assim “vacinada” e uma simples história da loira do banheiro pode roubar-lhe noites e mais noites de sono.

Meu filho que completa quatro anos em agosto, por exemplo, tem medo da “vaca monstro” (não faço a menor idéia do que seja, mas talvez um dia eu escreva um conto a respeito). De onde ele tirou isso? Já tentei saber mas nem mesmo ele soube me dizer, talvez seja fruto de horas defronte à televisão assistindo Discovery Kids. Engraçado, não? Sim, eu também acho graça, mas respeito o medo dele e não o ridicularizo por isso. Como eu disse: cada um com seus medos.

Frankenstein, lobisomem, vampiro, zumbi, isso não me afeta mais (o que me deixa triste porque muitas vezes eu gostaria de sentir esse medo de outrora), mas não significa que eu esteja imune a esse sentimento. Medo de ser assassinado, medo de perder o emprego, de perder a família, etc. Esses sim me afetam, e talvez seja por isso que os contos e livros que escrevo não abordem carnificinas e coisas do tipo, mas sim um lado mais psicológico e que atenta ao desconhecido e ao sobrenatural porque é isso o que me afeta.

Gosto da temática vampírica e licantrópica e os abordo inúmeras vezes em meus trabalhos, mas não me afetam mais e o meu prazer hoje deixou de ser o de sentir medo, para o de fazer as pessoas sentirem medo (pelo menos eu tento).

Em minha opinião existe uma grande diferença entre medo e nojo. Vejo muitos filmes que (pelo menos no meu caso, repito) não causam nada além de asco. Neles, deliberadamente se esfrega sangue e tripas na cara do público, entrecortado por um susto ou outro, e acreditam estar fazendo horror. Talvez eles estejam abordando o medo da morte, de as pessoas abominarem a idéia de vislumbrarem suas próprias tripas enquanto ainda conscientes, mas onde está o horror e o mistério? Se eu quiser apenas ver sangue e tripas eu vou ao açougue... Esses ingredientes fazem parte do horror? Claro, são ingredientes importantes que servem para chocar o público, mas desde que dentro de um contexto, de forma lógica e não apenas que sejam mostrados acreditando que eles, por si mesmos, causem horror, para mim causam nojo, o que é diferente. Pode discordar de mim, claro, não sou o dono da verdade, é apenas uma opinião minha.

Mas ainda prefiro aquele medo que te faz pensar dez vezes em olhar pro lado, de ir, no escuro, buscar uma cerveja na cozinha, de segurar a vontade de urinar até um limite absurdo temendo encontrar algo estranho no banheiro, de dormir sozinho e ser arrastado pra debaixo da cama ou para dentro do guarda-roupas, e coisas do gênero, isso sim é horror. Nojo eu sinto diariamente diante de tanta barbárie que presencio o mundo, e isso já me basta. Violência, sangue e maldade sem contexto, sem lógica...

Enfim, medo todos possuem e mente quem afirma o contrário (já não o fazer demonstra o medo de ser considerado fraco) e é por isso que acredito que o gênero horror nunca irá acabar, pois enquanto houverem os medos humanos haverá quem magistralmente fará uso deles para criar os mais perturbadores pesadelos.

Prisioneiro do Medo


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