Há muito tempo o horror deixou de ser apenas um dos mais primordiais sentimentos humanos e passou a ser utilizado como arma de manipulação das massas. Tal prática não é fruto dos tempos modernos, ela já é utilizada há muito tempo pelos governos e religiões como forma de manter a “massa” sob controle e impor sua forma de pensar.
Poderia citar diversos exemplos, mas vou me ater a apenas um, para encurtar um pouco a matéria, no entanto a metodologia é a mesma, só mudando as épocas e os personagens envolvidos.
O Cristianismo começou a se espalhar a partir de Jerusalém, por obra de um rabino judeu chamado Jesus, e acabou se alastrando por todo o Oriente Médio, se tornando a religião oficial da Armênia em 301 d.C., da Etiópia em 325 d.C., da Geórgia em 337 d.C., e depois a Igreja estatal do Império Romano em 380 d.C.. Tornando-se comum em toda a Europa na Idade Média, ela se expandiu em todo o mundo durante a Era dos Descobrimentos.
A civilização (por incrível que possa parecer) que mais se destacou na difusão dessa religião foi a mesma que crucificou seu criador, o Império Romano, tanto que hoje a sede mundial da mesma se localiza no Vaticano, localizado no coração da Itália (outrora sede de tal Império).
Mas a forma utilizada para doutrinar os povos conquistados e impor-lhes tal religião nunca foi das mais pacíficas.
Na época das Cruzadas a mesma era imposta praticamente na base da espada, ou seja, os Romanos aniquilavam a cultura dos povos dominados e impunha a sua própria cultura, com ela sua religião: o Cristianismo.
Diversos povos foram submetidos a tal prática, tanto no Oriente Médio quanto no norte e no leste da Europa, que também possuíam suas crenças próprias, onde cultuavam seus próprios deuses. Onde quer que o Império Romano pisasse e conquistasse, os povos dominados passavam por isso. No entanto, como ainda hoje podemos constatar, tais religiões ainda são seguidas por uma minoria convicta de seus ideais e que não se deixou dominar pelo medo da espada.
Os Cristãos perceberam que por mais que utilizassem a força bruta, ainda assim havia aqueles que não se deixavam doutrinar por sua crença religiosa, o Monoteísmo, e em vista disso foi colocada em prática pelos Romanos outra forma de fazê-los crer que a religião que seguiam não era a verdadeira: através do medo.
Todos os deuses outra adorados por essas civilizações, que passaram a ser denominadas como pagãs, foram considerados demoníacos, contrários ao verdadeiro Criador: Deus. Ou seja: todo aquele que insistisse em idolatrar esses deuses estava irremediavelmente condenado a queimar no fogo do inferno.
Foi assim que deuses como Lilith, Baalberith e centenas de outros passaram a ser conhecidos como demônios, hoje concedendo seus nomes às mais nefastas divindades que habitam os reinos infernais ao lado de Lúcifer (esse mesmo originalmente o mais belo dos anjos que atuavam ao lado do poderoso Criador e que hoje é retratado sob as formas mais horrendas). Na época, quem era louco o suficiente para idolatrar uma criatura feia?
O medo. Quem se atreveria a continuar cultuando tais entidades sob a pena de, após sua morte, sofrerem os piores tormentos ao longo da eternidade? Há os que não se deixam levar por tal imposição, ainda hoje, no entanto a grande maioria sucumbiu à lei do mais forte. Como costuma-se dizer: uma mentira dita milhares de vezes acaba por se tornar verdade. E foi o que ocorreu.
Ninguém passou a crer em Deus por aceitar que ele fosse o verdadeiro criador de tudo e todos. Como negar a cultura passada através de gerações de uma hora para outra? Foi através da imposição, da espada e do medo. As religiões ainda hoje utilizam essa mesma técnica para não deixar que suas igrejas esvaziem: pelo medo do desconhecido. Ao mesmo tempo em que o desconhecido é considerado como maligno (talvez se essas ovelhas decidissem adquirir um pouco mais de conhecimento perceberiam que o diabo não é assim tão feio quanto pintam).
Não prego aqui o Satanismo (por mais que muitas pessoas acreditem que eu siga essa filosofia por causa do gênero que sigo na literatura), apenas afirmo que as pessoas deveriam deixar de engolir aquilo que lhes é oferecido mastigadinho e arriscarem-se a pensar com suas próprias cabeças e assim perceber que há muitas verdades que são mantidas escondidas por interesses obscuros.
Não citarei nomes, mas as pessoas esclarecidas sabem bem à quais religiões eu me refiro, onde alegam que todo aquele que não seguir o “justo e verdadeiro” Deus cairá nas garras do mal. Ele será martirizado pelos mais pérfidos demônios, que outrora foram cultuados como deuses (é provável que a grande maioria nem saiba disso).
Medo: o sentimento que repele as pessoas de tudo aquilo que possa lhes infligir algum mal. Uma arma que sabiamente foi utilizada e ainda continua sendo, com sucesso.
Citando outro pensamento popular: aquilo que parece ser benéfico depende muito da quantidade em que é ministrada e o medo não foge a regra. Ainda que a grande maioria insista em permanecer afastada dele, hoje há aqueles que apreciam sentir medo, e principalmente, os que de alguma forma trabalham com ele. O que seria dos escritores, diretores e roteiristas de horror sem os que apreciam uma boa história que lhes faz os cabelos ficarem em pé?
Seja o horror no gênero mais brutal, como em filmes como O Massacre da Serra Elétrica, nos mais psicológicos como no caso de O Iluminado ou nos mais cômicos como em O Brinquedo Assassino, o gênero horror encontra sua legião de seguidores assíduos.
Conheço pessoas que, ao visitar meu blog, o fecham imediatamente simplesmente ao se depararem com a foto da simpática Regan MacNeil que foi possuída pelo demônio Pazuzu, após este ser liberado de seu covil ao ser encontrada uma singela estátua no Iraque. E há os que utilizam a mesma imagem como papel de parede em seus computadores. Há explicação lógica? Se há, ainda não me foi possível encontrar, prefiro denominar apenas como “prazer”.
O medo, que outrora foi utilizado como objeto de imposição de uma nova religião, hoje é idolatrado por milhares de pessoas ao redor do mundo e o número de seguidores do gênero parece aumentar mais e mais ao longo dos anos, ao contrário do que ocorre com as religiões.
Criaturas como o Lobisomem, Frankenstein, Drácula, Zumbis, Fantasmas, Loiras do Banheiro, Mãos Peludas e Secas e diversas outras hoje são veneradas por muitas pessoas (ainda que não abertamente por todas elas). Não digo que tenham deixado de ser temidas (embora algumas obras atuais pareçam desvirtuar as lendas originais atribuindo-lhes beleza e simpatia), mas o horror que eles impõem parece ter deixado de ser evitado, e sim, apreciado.
Para a sorte dos que apreciam o gênero horror, hoje não se corre mais o risco de sermos submetidos a engenhocas torturantes que culminavam com a morte na fogueira caso fossemos pegos com pôsteres ou coleções que retratam criaturas de aparência medonha e atitudes nada angelicais.
Quem poderia afirmar, na época do Império Romano, que o medo deixaria de ser temido para se tornar idolatrado séculos depois?
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