Em um texto anterior aqui no blog já me referi a respeito do horror ao longo da história da humanidade, porém o fiz de uma maneira mais analítica, não me reportando minuciosamente às épocas e datas. Leitores da minha coluna me pediram para especificar com maior riqueza de pormenores essas épocas e os fatores que deixavam as pessoas em pânico em cada uma delas. Então tentarei realizar o sonho (ou pesadelo) desses leitores abordando o tema de uma forma mais analítica, me baseando em uma interessante matéria da revista “Galileu” a respeito do medo humano.
Bom, chega de conversinha e vamos lá, está na hora do sangue correr. Já na Idade Média, cerca de 476 d.C., começou-se então a temer criações que continham intenções mais “obscuras”. A Igreja Católica prega então aos seus fiéis o até hoje aclamado (e por que não dizer rentável) “medo do inferno”, mas ainda teve tempo de pregar o horror e o ódio às bruxas, sem contar o medo do famigerado apocalipse. A peste negra também aterrorizou a Europa durante esse tempo, e com razão, era a vilã número um da lista de pesadelos. Foi nessa mesma época que o homem passou a temer também as “criaturas da noite” como os vampiros, os lobisomens e os fantasmas, e foi criada a primeira espécie de “serial killer”: os ladrões medievais de crianças (quase santos perto do que presenciamos atualmente).
Já em 1870 foram descobertos indícios da possibilidade de haver vida no planeta Marte, com isso os alienígenas (mais conhecidos na época como Marcianos) passaram também a nos fazer uma desagradável companhia durante as horas de sono. Com a Revolução Russa, em 1917, os homens passaram a temer uma nova forma de invasão bárbara, os ataques comunistas, medo esse que perdurou por muitas décadas (e ainda há aqueles que o possuam!). Depois que os amistosos norte-americanos (não os nativos, mas os que vieram da terra da rainha) bombardearam Hiroshima e Nagasaki com suas bombas atômicas em 1945, o homem passou a temer o holocausto nuclear e percebeu que o que outrora servia apenas para ajudá-lo, poderia agora também destruí-lo: a ciência.
Chegou então a vez dos “serial killers”, que surgiram pela primeira nas telas de cinema em 1960 com a clássica obra “Psicose” de Alfred Hitchcock, seguido por outras ótimas obras como “O Massacre da Serra Elétrica” (1974) e “O Silêncio dos Inocentes” (1991), entre inúmeros outros.
Já chegando ao final do século XX o maior temor era o do "Bug do Milênio”, que nunca ocorreu, porém os ataques ao World Trade Center fizeram renascer o medo de uma cultura desconhecida (por muitos considerada bárbara, como ocorreu no passado), e o medo do terrorismo islâmico entrou em voga. Hoje o “medo da moda” é o do Apocalipse, que como não veio no ano 2000, poderá vir agora em 2012, baseando-se em profecias Maias.
Ainda que existam os que tentem explorá-lo de uma forma mais romanceada, sempre existirão os que ainda prefiram as entidades malignas, frias e sanguinárias que tantas vezes os fizeram passar noites em claro, muitas delas tão humanas quanto eu e você.
Criaturas que outrora aterrorizavam o homem, hoje são objeto de desejo, como ocorre com os vampiros que foram “adocicados e purpurinados” e os lobisomens, “amansados” e por que não dizer “domesticados” com o surgimento da série “Crepúsculo”. Outros filmes abordam esses personagens sem retirar-lhes o ingrediente principal, o medo, como a série “Blade” estrelada por Wesley Snipes, “Anjos da Noite” (que criou uma guerra entre vampiros e lobisomens que há quem acredite ser real” e “30 Dias de Noite” (que saiu dos quadrinhos para se tornar um ótimo filme de terror). Seja como for, o medo ainda faz e acredito que sempre fará parte do homem, como um dos seus mais primordiais sentimentos.
Em 1968 os zumbis entram em cena com o filme “A Noite dos Mortos Vivos” de George Romero e em 1996 essas simpáticas criaturas invadem o mundo dos vídeos games com a série “Resident Evil”. Como deixar de lado o filme de Willian Friedkin, “O Exorcista”, que em 1973 fez a humanidade retornar ao já quase esquecido medo do demônio? Cabeças girando, vômitos pouco apetitosos e insinuações sexuais recheadas de palavras obscenas castigaram os mais sensíveis. Voltando um pouco à realidade, o homem deixa de temer ser enterrado vivo e passa a sentir enjôos com a idéia de sofrer uma morte lenta e dolorosa, adiada pelos médicos devido aos avanços da ciência.
Enfim a Idade Moderna e Contemporânea chegou e o homem passou então a “soltar a franga” imaginária, dando vida as mais diversas criaturas que pareciam ter sido criadas apenas com o intuito de nos atormentar. Surgiu então o célebre Frankenstein (em 1831), o primeiro monstro construído pelo homem, presente no romance de Mary Shelley de obra homônima.
Nos primórdios da humanidade, o ainda homem pré-histórico possuía nada menos que o mesmo medo sentido pelos demais animais: o de ser devorado por um predador. Na época a criatividade ainda não era o forte das “pessoas” e eles temiam apenas o que lhes era mais palpável, não dando margem, ainda, às criaturas imaginárias. Por volta de 100.000 a.C. o imaginário passou a se fazer presente nos homens, até mesmo porque eles aprenderam a prever e evitar o ataque de predadores, com isso começaram a dar asas à imaginação e passaram então a temer criaturas criadas por eles, nada palpáveis, como deuses, demônios e espíritos.
Em 1975 Steven Spielberg dá origem ao filme “Tubarão”, explorando o antigo medo humano de ser devorado (mas os zumbis também não faziam isso?). Já em 1980 “O Iluminado” passa a fazer parte do seleto grupo de filmes aterrorizantes, e seria acompanhado por diversas outras obras como “Poltergeist” (1982), “O Sexto Sentido” (1999), “A Bruxa de Blair” (1999), etc. A lista de obras dignas de serem mencionadas é imensa e posso citar “A Profecia” (o original da década de 80), “O Bebê de Rosemary”, “Carrie: A Estranha”, “A Hora do Pesadelo”, os diversos “A Hora do Pesadelo” e “Sexta-feira 13”, etc, etc e etc.Em meados de 3500 a.C (supõem-se, até mesmo porque ninguém estava lá para provar) o maior medo dos homens era o de ser enterrado vivo por ser, de forma errônea, considerado morto. Mas outro medo passou então a existir: o medo de outros homens, no caso, das civilizações vindas de longe, os chamados “povos bárbaros”. Hunos, Vikings e toda a sorte de homens sanguinários passaram a habitar os pesadelos humanos (e com razão!!).
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