23 abril 2014

São Cipriano: Bruxo ou Santo?


bruxo

      Você já ouviu falar de São Cipriano?
E sobre a poderosa Oração da Cabra Preta?
Ou então sobre o autor do famoso livro de bruxaria com o título homônimo O Livro de São Cipriano?
Conheça a história do homem que deixou de ser bruxo para se tornar santo.

Ao longo da história existiram dois personagens hoje conhecidos como São Cipriano. Um deles foi um feiticeiro que se converteu ao cristianismo enquanto o outro, São Cipriano de Cartago, foi santificado pela Igreja Católica e é conhecido como o Papa Africano.
A história de ambos se confunde, de forma equivocada, e isso faz com que, na cultura popular, acabem se tornando um só.
Aqui falarei sobre o bruxo, feiticeiro e Santo de Antióquia, o autor do famoso livro mencionado acima.
Cipriano nasceu em 250 d.C. na região da Antóquia, entre a Arábia e a Síria, e era filho de ricos pagãos. Desde criança foi induzido ao estudo das ciências ocultas como a adivinhação, a astrologia, a alquimia e diversas formas de magia.
Durante a juventude ele viajou por muitos países, como a Grécia e o Egito, incorporando os conhecimentos com os quais se deparava, até que chegou à Babilônia, onde pode conhecer a cultura obscura dos caldeus.
Nessa mesma época ele teve a oportunidade se encontrar com uma poderosa bruxa, Évora, com quem aprimorou técnicas de premonição e de quem herdou valiosos manuscritos, assim que a feiticeira morreu.
A dedicação aos estudos e as práticas de magia negra lhe conferiram grande poder, colocando-o num patamar acima dos demais feiticeiros da época.
Cipriano acabou se tornando muito conhecido, e bastante temido, por onde passava.

São Cipriano
Mas por que Cipriano, um poderoso bruxo, se converteu ao cristianismo?
Diz a lenda que tudo se deu por conta de uma mulher, Justina.
A rica e bela donzela também fora educada dentro das tradições pagãs, mas se convertera ao cristianismo após ouvir as pregações de um diácono, Prailo, e passou a se dedicar somente às orações, preservando sua pureza. Tão grande foi o poder de persuasão de Prailo que os pais da jovem seguiram pelo mesmo caminho.
Porém chegou o dia em que Justina foi concedida como esposa a um rico jovem chamado Aglaide, que por ela se apaixonara. Mas a jovem não o aceitou como marido.
Inconformado, Aglaide pediu ajuda ao poderoso Cipriano, certo de que assim poderia tê-la como esposa.
O bruxo, após receber vultuosa quantia, utilizou de todo seu conhecimento nas artes místicas para que a jovem cedesse aos encantos de Aglaide, mas em vão.
Utilizando-se de orações e com o “sinal da cruz”, os feitiços do bruxo não a atingiam.
Cipriano percebeu que nem mesmo seus mais poderosos feitiços ou a força dos demônios com os quais atuava eram capazes de vencer a força da fé daquela moça.
O bruxo se desiludiu com a prática magia negra, percebendo que havia algo mais poderoso que ela.
magia negra
Sob a influência de Eusébio, um amigo cristão, o feiticeiro abandonou as práticas de ocultismo e acabou por também se converter.
Como prova do seu arrependimento Cipriano queimou todos os manuscritos que possuía e entregou aos pobres toda a riqueza que acumulara até então, com a prática de bruxaria.
Porém as notícias da conversão de Cipriano e das obras cristãs realizadas pelo antigo feiticeiro, e por Justina, desagradaram o imperador Diocleciano e eles acabaram sendo presos.
Diocleciano, aparentemente, se utilizara do poder de Cipriano em diversas ocasiões e a ideia de que não mais poderia fazer uso deles o desagradou bastante.
Frente a frente com o imperador, Cipriano e Justina foram forçados, através de tortura, a negarem o cristianismo.
Mas a fé dos dois parecia inabalável e nenhum deles cedeu.
Conta-se a história de que Diocleciano lançou Cipriano e Justina numa caldeira com cera e banha ferventes, mas eles não esboçaram sofrimento algum.
Um feiticeiro de nome Athanásio (antigo discípulo de Cipriano), que servia ao imperador, alegou que as torturas não surtiam efeito devido a algum sortilégio lançado por seu antigo mestre. Na ânsia de elevar sua reputação diante de Diocleciano, o feiticeiro desafiou Cipriano. Athanásio conjurou demônios e magias e, julgando-se protegido, se atirou na mesma caldeira, sendo consumido em poucos segundos.
Percebendo que nada faria Cipriano e Justina abandonarem sua fé o imperador, em 304 d.C. ordenou a decapitação dos dois, na Nicoméia (hoje conhecida como Izmit, na Turquia). Os corpos foram expostos ao público por seis dias até que foram recolhidos por grupos cristãos e levados para Roma.
Durante o império de Constantino os restos mortais foram enviados para a Basílica de São João Latrão, considerada a “mãe” de todas as basílicas do mundo.
Em um capítulo de seu livro, Cipriano narra um episódio ocorrido após sua conversão:
"Numa noite de sexta-feira, caminhava por uma rua deserta quando deparei-me com quatorze fantasmas. Essas aparições eram bruxas que imploravam ajuda. Respondi-lhes que havia me arrependido de minha vida de feiticeiro, e que havia me tornado temente a Jesus Cristo. Logo depois cai em sono profundo, e sonhei que a oração do Anjo Custódio me livraria daqueles fantasmas. Ao despertar tive uma breve visão do Anjo. Assim, auxiliado pela oração de São Gregório e do Anjo Custódio, esconjurei e livrei a alma atormentada das bruxas."
O famoso Livro de São Cipriano foi redigido antes de sua conversão, mas o mistério que envolve a vida de Cipriano também interfere em seu livro.
Se ele mesmo havia queimado seus manuscritos como prova do seu arrependimento, como a obra surgiu?
Desconhece-se quando e quem reuniu e traduziu os manuscritos que deram origem ao livro. Originalmente escritos em hebraico, foram traduzidos para o latim e, posteriormente, enviados para diversas partes do mundo.
Porém, o livro sofreu significativas alterações no decorrer dos anos, o que deixa dúvidas sobre a fidelidade das versões atuais. Tanto que hoje não mais existe o Livro Gigante de São Cipriano, pois ele foi dividido em dois volumes: O Livro da Capa Preta e o Livro da Capa de Aço.
Livro de São Cipriano
Essas obras enfatizam um mesmo acervo mágico central, e ainda exaltam o cristianismo e a vitória do bem sobre o mal. Porém, existem grandes diferenças no conteúdo. Enquanto alguns exemplares apresentam histórias e rituais inofensivos, outros apelam para a magia negra.
Num aspecto geral. Os livros contem instruções para o tratamento de moléstias, além de cartomancia, esconjurações e exorcismos.
Livro de São Cipriano
A famosa Oração da Cabra Preta, a Oração do Anjo Custódio e diversas outras famosas na crença popular também estão presentes nesses livros, além dos rituais de como obter um pacto com o demônio, como desmanchar um casamento e o da caveira iluminada com velas de sebo.
No Brasil, os Livros de São Cipriano são usados largamente nas religiões afro-brasileiras, e se tornaram-se um "almanaque ocultista" de fácil acesso. Há ainda os mitos que os cercam: muitos consideram ser pecado possuí-los ou simplesmente tocá-los. De qualquer forma, o tema São Cipriano e tudo que o cerca é um campo de estudo e pesquisa muito interessante para os ocultistas, religiosos e aventureiros.
São Cipriano e Justina
A fantástica trajetória do bruxo e santo da Antióquia representa o elo entre Deus e o Diabo, entre o puro e o pecaminoso, entre a soberba e a humildade.
São Cipriano é mais que um personagem da Igreja Católica ou um livro de magia: é um símbolo da dualidade da fé humana.
Porém, existem duas intrigantes questões que permanecem sem resposta.
Teria realmente Cipriano queimado seus manuscritos ou ele os entregara a algum de seus discípulos? Como teria então surgido seu livro caso os manuscritos tivessem realmente sido queimados? Seriam os livros atuais atribuídos a São Cipriano meras compilações de rituais cuja autoria fora a ele atribuída devido à popularidade de seu nome?
A fortuna acumulada por Cipriano graças aos “trabalhos” por ele realizados teria realmente sido distribuída entre os pobres ou teria sido entregue totalmente à Igreja em troca da absolvição dos seus pecados?
Questões que talvez nunca sejam respondidas, mas que não anulam o fato de que São Cipriano é um personagem bastante intrigante.


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